O associativismo imigrante pode ser definido por um grupo de indivíduos de origem imigrante que se organiza de modo formal e ou informal, na constituição de grupos de pessoas, ou organizações, sem fins lucrativos, com o objetivo de gerar soluções, superar desafios e dificuldades nos mais variados âmbitos - social, cultural, profissional e económico - com vista a contribuir no processo de inclusão dos seus conterrâneos nos países de acolhimento.

Em Cabo Verde esse fenómeno foi marcado por duas grandes fases:

  • A primeira, a partir dos anos 90, com o surgimento das primeiras organizações de imigrantes, originárias essencialmente da Guiné Bissau, criadas de forma informal, mas que tinham um papel essencial na intervenção social e de emergência, e no acolhimento dos recém-chegados ao país, visando prestar apoio na busca de habitação e trabalho.
  • A segunda fase, a partir dos anos 2000, com o surgimento de várias outras associações de imigrantes, a maioria organizadas por país de origem e representando diversos países africanos como: Guiné Bissau, Senegal, Gana, Serra Leoa, Nigéria, Guiné Conacri, Mali, Camarões, São Tomé e Príncipe, Gâmbia ou Moçambique.

O rápido crescimento da imigração africana no país, aliado às dificuldades de integração, terão motivado o aumento exponencial dessas associações. Esse fenómeno tem vindo a aumentar gradativamente até ao momento atual.

Em 2009, um grupo de associações africanas, organizou-se no sentido do seu reconhecimento formal e oficialização e criou, com o apoio da Associação Renascença Africana – a RAMAO, a Plataforma das Comunidades Africanas Residentes em Cabo Verde (PCA), que funciona como um porta voz dessas associações reforçando o seu papel enquanto agentes da integração sócio-económica das comunidades africanas no país. A PCA tem desempenhado um papel importante, enquanto interlocutora privilegiada com o governo, instituições públicas e privadas na defesa dos interesses transversais das comunidades Africanas e na promoção dos seus direitos, apesar de ainda enfrentar muitos desafios para o seu melhor funcionamento.

Os dados disponíveis atualmente apontam para a existência de 24 associações de imigrantes em Cabo Verde, a maioria sediada na ilha de Santiago, na Praia, e nos concelhos com maior concentração de imigrantes, como Santa Catarina de Santiago, Boavista, Sal e São Vicente. Nas restantes ilhas, as associações e organizações existentes funcionam como filiais e/ou representações das associações “mães” criadas e sediadas na Praia.

A grande maioria das associações representam somente as comunidades africanas, que se têm esforçado para promover a inclusão das comunidades imigradas no país. Um aspeto a apontar é a inexistência de associações provenientes dos países europeus e americanos, o que se poderá justificar pela facilidade de integração dos imigrantes desses países em Cabo Verde, a maioria constituída por quadros superiores técnicos da administração pública, cujo processo de integração é mais facilitado.

Apesar de ser constituída sobretudo por ex-estudantes cabo-verdianos na China, e ter por objetivo reforçar a cooperação entre Cabo Verde e a China, a associação de Amizade Cabo Verde China – Amicachi, tem sido fundamental como ponte de contacto com os imigrantes Chineses residentes em Cabo Verde.

Atualmente encontra-se em organização a comissão instaladora para a criação da futura associação de imigrantes da América Latina, destacando-se também a existência de uma associação de Empresários Chineses recentemente criada na Praia.

O trabalho desenvolvido por essas associações consiste essencialmente no acolhimento de imigrantes, assistência e solidariedade social a imigrantes, realização de atividades recreativas e de preservação de suas identidades culturais, e de comemoração de efemérides, atividades formativas e/ou encaminhamento de imigrantes a instituições para a resolução dos seus problemas.

Vários são os desafios para melhor funcionamento do movimento associativo imigrante, dos quais destacamos:

  • Elevar a capacidade organizativa, para possibilitar a intervenção das associações com ações mais consistentes e duradouras e em outros domínios;
  • Reforçar a capacidade associativa com recursos humanos capacitados, e especialização e/ou profissionalização em alguns casos;
  • Necessidade de mobilização constante de recursos financeiros, uma vez que tem sido difícil a participação de seus membros através de pagamento de quotas;
  • Promover equilíbrio em termos de género, de forma incentivar a maior participação cívica e participação de mulheres na vida associativa e em espaços de maior visibilidade e decisão;
  • Sensibilizar e mobilizar os países de origem para co-financiarem atividades de inclusão dos imigrantes em Cabo Verde;

Trabalhar para a aquisição de instalações próprias, pois muitas associações funcionam em casas particulares dos seus dirigentes associativos, ou em espaços escolares e ou centros comunitários.

Conciliar a vida associativa, que é um trabalho voluntário, sem horário específico, e não remunerado, com a vida profissional que a maioria das vezes é muito exigente.

Hoje as associações de imigrantes integram já o contexto social cabo-verdiano enquanto parceiros do poder Central e Local.

A sua consolidação e ou evolução será condicionada, por um lado, pela capacidade de organização interna, de mobilização de grupos de imigrantes em torno de interesses comuns, e diálogo entre os intervenientes no processo de integração social das populações imigrantes e, por outro lado, pelas mudanças da própria sociedade, de acordo com características do percurso migratório no país de acolhimento e suas dinâmicas de integração.